Arrefece a sensação de completude,
A de pertencer em algum lugar.
Em noites mal dormidas, impotência,
Muitas das vezes, apneia, falta de ar.
O mercado da violência,
Ministrado à céu aberto,
À qualquer hora em plena luz do dia.
Sem dó e nem piedade,
Demonstrando a sua potência:
Máquina de moer gente.
Não importa a idade,
Nem tão pouco a identidade.
Em comum, a cor da pele negra,
Ligado diretamente ou não.
Alta madrugada,
Sem alarde,
Na falida comunidade -
Pegando a todos de surpresa.
Os cachorros latindo pela vizinhança,
Avisando que não está nada normal,
Ceifando a esperança.
Ressoando sobressalto,
De repente, o som metálico do fuzil.
Tão estridente e ardil,
Quanto ao penetrar a carne.
Derramando o elixir da vida,
Manchando as calçadas, as ruas,
Em tom vermelho –
Infeliz verdade crua.
A enxurrada dolorosa, turbulência,
Levando vidas jovens.
O que cometemos, onde estão os erros?
De anos desperdiçados,
Na involução, despreparados.
Talvez a falta de oportunidades.
Onde se perdeu a felicidade?
Engolida por inversa realidade.
Mergulhados em iminências frágeis,
Aos que estão entorpecidos,
Não enxergam o que está a desfavor –
Usados como produtos descartáveis.
Aos que estão de fora,
Observando por outro prisma,
Veem gradativa degradação.
Definhando-se corpos,
Abarrotando os cofres,
A ilusão transbordando copos.
Derramando futuros promissores,
Na linha de frente,
De si mesmos – Desertores -
Entristecida tenra densidade,
A fila que se faz para a substituição.
O RH da firma completa produção,
A mais vil constatação.
O Estado como vínculo de omissão,
Promovendo a polarização.
Qual é a sua contribuição?
Na outra ponta a lei, a moral,
Usando de um teatro macabro,
Maquiagens se escondendo na tela.
Eles querem enganar a quem?
Usando do velho marketing nefasto,
Delegando o sacrifício da vez,
Métodos para se promoverem, palanque político.
Insuflando a massa falida,
Fakes news contribuindo para a idiotização.
Ao ser humano os não escolhidos,
Devotando deveres e a degradação,
O flagelo desumano.
Incutindo nas mentes a ostentação,
Com uma das mãos oferecendo migalhas,
Com a outra apontando as suas falhas.
A falta de segurança,
Atravessando o seu caminho,
Ou simplesmente, Invadindo as nossas casas.
Na finita existência,
Promovendo arruaças.
Aos menos favorecidos a gentrificação,
De presente a coação.
A derme negra como alvo,
A favela o eterno cativeiro, a senzala.
Algum anseio de transmutar o cotidiano?
Tratados como mulas,
Pagando exorbitantes impostos.
Cinzenta aquarela,
Descortinando-se pelas janelas.
Qual é o prazer de lutar por algo tão efêmero?
Que de um momento para o outro pode desvanecer,
Cogitados como números,
Triste estatística.
O próprio Governo promovendo a desunião,
O oculto infiltrado, a discórdia,
Alimentando as sombras.
Pessoas acorrentadas pelos vícios,
Beneficiando toda uma falange do mal,
Não percebem o poder do sobrenatural.
No martírio de suas almas,
Insaciedade da calma.
Desperdiçando horas,
Envolvidos em loucuras.
Desperdiçando o aprendizado,
Cometendo crimes e pecados.
Restando apenas o flagelo da existência,
Ceifando vidas sem clemência.
A humanidade dividindo-se em gangues,
Promovendo a barbárie,
Banho de sangue,
A desordem dos intoleráveis.
Enquanto, os de colarinho branco,
Tornam-se cada vez mais intocáveis.
Sobrando para o pobre favelado,
A viver com a estômago embrulhado,
Sobrevivendo com os restos.
Quantos mais se perderão no meio do caminho,
Engolindo a própria saliva,
Ou sendo forjado?
Na incerteza, sem a garantia de nada,
De pés descalços, pela longa estrada.