A música desde que me entendo por gente, sempre foi um ingrediente indispensável para o meu desenvolvimento pessoal, principalmente, para a essência.
O Rock n’ roll foi algo que despertava a minha atenção ressoando com a alma e, não identificava bem os sentimentos, em uma época quando não sonhávamos com a era digital, esse amadurecimento veio com o tempo.
O acesso à música era escasso, chegava através da televisão.
Quando aparecia a imagem do então rei do Rock: Elvis Presley, alguma chave virava em meu ser ascendido.
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Em um lugar não muito distante, quando ainda não era nem nascida, na também jovem capital do Brasil, outro brasileiro inconformado com a situação política buscava o seu lugar de pertencimento, motivado pelo bom e velho rock n’ roll extravasar toda a sua revolta e indignação com o seu jeito autêntico e, por que não excêntrico? Porém, verdadeiro e repleto de potencial, desafiando a todo um sistema.
Afinal, o que está entranhado neste gênero musical, senão a transgressão, usando a sua força no movimento punk Rock da época para desmascarar toda uma hipocrisia que infligia o mínimo de decência humana, atos de rebeldia.
Este mesmo jovem era apaixonado por livros e música, alimentando dentro de si a revolta que motivava e fazia com que outros pensassem que poderíamos viver livremente, enxergando o Brasil como um país igualitário, sem a mordomia para os mais abastados, enquanto, a maior parte da população sofria (sofre) com o descaso e desmandos até os dias atuais.
Os anseios desse jovem vinham impregnados em suas falas de efeito, com frases sarcásticas, não somente para ele, como também para que toda uma população tenha a oportunidade de possuir as devidas condições de viver em uma realidade totalmente diferente, não somente no Brasil como no Planeta inteiro, uma nova consciência de vida, decentemente com educação, saúde e segurança, os direitos básicos.
Ao mesmo tempo em que interagia com o público e seus fãs:
“QUE PAÍS É ESTE?”
Buscando uma autêntica reflexão.
Também dizia:
“QUERO TER ALGUÉM COM QUEM CONVERSAR,
ALGUÉM QUE DEPOIS NÃO USE O QUE EU DISSE,
CONTRA MIM...”
Talvez este fosse um reflexo do regime da Ditadura imposta no país, o medo de sofrer com as suas consequências e desmandos.
E quando cantava:
“O BRASIL É O PAÍS DO FUTURO!”
Em um de seus shows ele protestou, dizendo que o Governo gastava mais com propagandas do que comprando comida para quem mais precisava.
Em pleno ano de 2.025, pergunto-me:
Por onde andará este país do futuro?
Porque a todo instante percebo o retrocesso no qual mergulhamos, com leis retrógradas, com a ameaça nazista se inflamando por todos os lados.
Como será que aquele jovem pensaria hoje?
Os anos se passaram...
A Democracia voltou a reinar em nosso abençoado e ensolarado país.
Ou teria sido apenas uma cortina de fumaça para acobertar diversos e cruéis crimes?
Iludidos com dias mais leves, meses e anos contemplando uma conquista em que para a termos muitos tombaram nos anos de chumbo, ou exilados para não sucumbirem às intempéries hostis.
Mas que de alguns anos para cá a sombra obscura daquele velho tempo voltou a pairar sobre as nossas cabeças como um anjo da morte querendo arrancar o que mais de precioso possuímos: A liberdade.
Acredito que nem tudo de fato é realmente o que nos é retratado e, apenas muda de figura, dando-nos o que tanto almejamos para deixar o povo satisfeito e eles continuarem as tramas sórdidas por debaixo dos panos.
Por mais que atravessamos uma etapa mais difícil (2.019 – 2.023) que, infelizmente coincidiu com o período da pandemia da covid-19, trouxe-nos graves consequências.
Portanto, em 2.023 conseguimos virar este jogo, mas o iminente perigo não cessou trazendo consigo graves ameaças que perduram até o momento presente, deixando resquícios de ódio e intolerância, uma crescente guerra de egos, instaurando uma guerra civil em meio à população mais fragilizada.
Em um lugar onde somos completamente atacados por todo o viés, omissão, descaso com a saúde e a falta de preservação do meio ambiente - Aos periféricos, gerando a gentrificação.
Literalmente o pobre não tem vez, deixando bem claro uma segurança de extermínio, lugar no qual somos julgados pela simples maneira de sobrevivermos em pontos vulneráveis da cidade, ainda pelo tom da pele.
O status não vem pela educação, cercados por todos os lados, sem o poder da escolha, o valor se mede por aquilo que se tem, ou seja, nada!
A favor de uma geração, colocando a sua voz ativa de protesto foi e sempre será potente diante das mazelas de governos cada vez mais omissos, diante da polarização que nos permeia por uma sociedade pautada no egoísmo, com a qual a valorização da educação é colocada em cheque.
A sua arte denunciava, cobrava, questionava de uma forma poética e potente, em que os versos estarão sempre atuais, pontuando o que há de mais perverso nesta política nefasta.
O que mais desejou foi um país crítico e politizado, antes de tudo consciente!
“VAMOS CELEBRAR A ESTUPIDEZ HUMANA,
A ESTUPIDEZ DE TODAS AS NAÇÕES...”
A métrica de sua poesia e música ressoam vivos e pulsantes nas vibrações de ferramentas com a resistência do Rock.
Ele ousou ser um ser humano incrível, autêntico, determinado e sem medo de ser quem realmente se é, almejando o melhor para a família, amigos e, demais brasileiros.
Em seus sonhos...
Nas entrelinhas...
Por entre escudos e espelhos –
Jamais se calaria.
Com a força destemida do Aborto Elétrico com a junção da Legião Urbana os seus fãs não o ignorariam.
Antes de tudo só queria viver um amor, em que pudesse ser enxergado como realmente era diante à sua opção sexual e, isso não é demérito para ninguém, pelo contrário, nunca se escondeu, demonstrando senão, somente o amor.
Os sonhos...
Sonhar era a sua arma mais significativa.
Esse jovem floresceu em meio à Ditadura, em que desejava apenas viver os sabores e dissabores da liberdade.
Como observo os jovens contemporâneos convivendo em um ambiente totalmente permissivo, mas com o perigo do Estado ou não sempre à espreita esperando o momento oportuno para dar o bote.
Em suas entrevistas e/ou em meio aos seus shows orientava a plateia composta por jovens e adultos subversivos a construir um raciocínio lógico regido pelo amor, ternura e esperança, mesmo em meio a todo caos e manipulação.
“É PRECISO AMAR AS PESSOAS,
COMO SE NÃO HOUVESSE AMANHÃ.
PORQUE SE VOCÊ PARAR PARA PENSAR,
NA VERDADE NÃO HÁ...”
Infelizmente, a Legião Urbana teve um período curto de quatorze anos, de existência.
O seu idealizador não era e, sim, é uma alma cativante que, mesmo em um período turbulento da História do Brasil soube ser criativo, contestador e desafiador, dando a cara para bater, inspirando tantos indivíduos com a sua força motriz, eternamente magistral... Aqueles que desejavam viver mesmo em um dos momentos mais conturbados.
Se as gerações que já passaram por aqui, após a sua partida, o conheceram, não sei. Mas de uma coisa tenho certeza: Vale à pena para os que estão aqui e, principalmente, para esta e próximas gerações beberem dessa fonte inesgotável de inspiração.
Renato Russo não é apenas um rockeiro delinquente, visto como um marginal em seu período punk Rock.
Ele é o motor que move toda essa engrenagem que nos leva a pensar e nos leva a ter um nítido raciocínio, não deixando que o façam por nós. É necessário tomarmos as rédeas.
Hoje me ponho a pensar:
Como seria não somente o nosso país, como o mundo inteiro em pleno ano de dois mil e vinte e cinco ao modo Renato Russo de ser?
Talvez amaríamos sem medo, lutaríamos com mais poesia, sofreríamos com dignidade e esperaríamos mesmo na dor, por dias melhores.
Vários conflitos ao redor do Planeta,
Iminências de guerras...
E Renato Russo pedia para não deixarmos a guerra acontecer, com ameaças de ataques nucleares, ogivas, sem falar em nossa guerra civil. Porque uma bala quando não atravessa um corpo, ela provoca um ataque de pânico ou cardíaco, fatal!
“SOMOS TÃO JOVENS!”
Apesar de tudo...
“NUNCA DEIXE QUE NÃO DIGA,
QUE VALE À PENA,
ACREDITAR NO SONHO QUE SE TEM.
OU QUE SEUS PLANOS NUNCA VÃO DAR CERTO
OU QUE NUNCA VAI SER ALGUÉM!”
A cada etapa é uma batalha, uma luta a ser vencida.
“SE O MUNDO É MESMO PARECIDO COM O QUE VEJO,
PREFIRO ACREDITAR NO MUNDO DO MEU JEITO. “
É com esse trecho que me despeço deste texto porque se fôssemos falar de sua obra no total, levaríamos uma vida inteira.
À Renato Russo
Toda a minha gratidão,
Por sua poesia e garra que nos permite sonhar.
E dedico este texto à minha irmã Luciana,
Também muito fã da Legião Urbana,
Mas que em outubro de 2.000, realizou a sua partida.
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